segunda-feira, 26 de março de 2012

Mulher centopeia.


Não consigo entender como uma pessoa pode ser feliz comprando uma bolsa. Já perceberam que estou falando de uma pessoa do sexo feminino, né? Não que nós, homens, não compremos bolsas; ou não nos sentimos felizes ao comprá-las, mas no caso das mulheres, a bolsa tem um significado que muito me intriga. Nem vou aqui falar dos sapatos, vetores insubstituíveis no universo feminino, mas eles, os sapatos, figuram numa categoria diferente, provavelmente na categoria centopédica! Pense comigo: um mês, 30 dias. Se você for uma pessoa muito extravagante, pode querer usar um par de sapatos diferentes por dia, isso equivale a 30 pares de sapatos em um único mês. Uau! Então, como pode o ser humano, que tem somente dois pés, possuir mais de 100 pares de sapatos, incluindo as sandálias, tamancos, botas, chinelinhos e pantufas? No meu cálculo, dá para usar mais de três tipos de calçados diferentes por dia e, a cada dia, mais três diferentes. Num mês, terá usado mais de 100 sapatos, sem repetir um sequer. Centopédico, não é mesmo?!
Voltando às bolsas. É difícil acreditar que não haja vida inteligente além das bolsas. Será que uma pessoa (a mulher) está condenada a viver presa num armário cheio de bolsas, para enfim ser feliz? Por que a maioria delas não colecionam selos, folhas secas, carros antigos? Por que não gastam dinheiro em algo producente, como realizar um projeto profissional? Acho mesmo que o problema vai além dos delírios de consumo de Becky Bloom. É algo indecifrável, inexplicável até por elas mesmas. Experimente e pergunte a uma mulher. Analise o que ela vai te responder. Um dia desses, minha esposa chegou em casa com um bolsa novinha, embrulhada num plástico transparente que ela, inocentemente, tentou esconder de mim. Ah! Filha da..., corri e a alcancei antes que ela escondesse o produto do crime no armário. _ Eliane! Você comprou mais uma bolsa? Olha seu armário? São tantas que não cabe mais nenhuma! Ela olhou pra mim, respirou fundo e disse com aquela cara, tipo: alôô! _Por acaso, você está vendo alguma bolsa branca aí? Contei. Vermelha, marrom, bege e muitas pretas. Realmente, ela estava certa, não havia uma bolsa branca. Perdoei. 

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Dia de folga

Acho que preciso voltar a escrever. Me sinto tão só.Vou precisar de um Dia de Folga.

domingo, 27 de março de 2011

Cartas ao sabor do vento

Entrei numa fase em que acho tudo muito chato e sem brilho. É claro que para chegar até esse ponto, percorri mundos e experimentei ilusões que me permitiram chegar a tão infausta conclusão. Logo eu, que saiu daquele grupo de crianças felizes do subúrbio carioca de outrora. Moleque de rua, levado, que fugia das merecidas chineladas, refugiando-me na casa da árvore. Membro promissor de uma família tecnicamente ajustada para os padrões da época. Configuração clássica: com papai, mamãe, irmãos, primos, amigos de escola e tal. Depois cresci, estudei, namorei, casei e tive filhos.

Após uma jornada feliz, agora pra lá dos 40, acho tudo muito sem graça. Atribuo a essa fase nefasta, da qual espero me livrar em breve, a morte do meu pai, no final do ano passado. Ele foi prova de como a vida pode se tornar patética. Meu pai foi a famigerada ovelha negra dos seis filhos do Capitão Mello. Tal qual o pai, também foi fuzileiro, mas inapropriadamente aventureiro, e um tantinho irresponsável, inconseqüente e intempestivo: qualidades que não o impediram de defender o leite santo de cada dia. Personificou a figura do malandro carioca, falador, falastrão, que gostava de levar vantagem em tudo. Encarava com bom humor todos os percalços que o destino lhe proporcionou. Oito anos após perder a amada esposa, companheira de tantos e tantos anos, passou a viver com uma grave seqüela decorrente de um AVC isquêmico, que limitou parte dos movimentos do corpo e lhe roubou as propriedades da fala, da qual tinha grande orgulho.

Durante os 12 anos em que passou viúvo até morrer, meu pai viveu perdidamente triste, cabisbaixo, deprimido e, certamente, saudoso dos tempos em que brilhava nos campos de futebol de Éden e de toda a Baixada Fluminense. Dos tempos em que enchia o fusquinha de crianças para passar férias nas cidades de Vera Cruz e Miguel Pereira, berço de mamãe. Dos tempos em que chegava com balas e doces, e as arremessava de “avanço” para todos nós.

Sei que tais recordações são o motivo de tanta sorumbatice desses dias. Receio ter me transformado em um homem desencantado e um tanto receoso quanto a existência de um futuro benfazejo. Passei a acreditar que todo o processo pelo qual se ergue uma vida inteira está fadado a desmoronar como um castelo de cartas ao sabor do vento. O que me consola, às vezes, é contar com um tênue fio de esperança de que serão bem aventurados os homens que dominam a arte de empilhar cartas.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O leilão das almas

A tragédia da vez, ocorrida na região serrana do estado do Rio de Janeiro, nos choca pelas quinhentas e tantas vidas perdidas e pelo sofrimento de quem perdeu absolutamente tudo. Nessas horas, nossos problemas corriqueiros, pequenos e muitas das vezes inventados, contrastam com a incalculável dimensão da dor daquela população.

Inevitavelmente, momentos tristes como este nos deixam introspectivos, solidários... matutando sobre o valor das nossas árduas conquistas, como o nosso cantinho, a família, o trabalho etc. Apesar de fazermos questão de esquecer, estamos “subconscientemente” certos de que também somos potenciais vítimas do acaso. Um desastre de carro, uma bala perdida, a queda do avião... Enfim, convivemos com a latente possibilidade de algo ruim nos acontecer; por isso cuidamos da saúde e prevenimos acidentes todo tempo.

Quando Dona Ilair foi heroicamente salva pelos vizinhos, numa improvável operação de resgate, bem sucedida graças ao surgimento providencial de uma corda de comprimento e resistência perfeitos para ocasião, vimos que a “hora da morte” é algo realmente incompreensível à racionalidade humana.

Por que os homens dos Bombeiros – acostumados a salvar vidas – morreram soterrados, em vez de Dona Ilair, salva de ser levada pela forte correnteza, junto com seu cãozinho de estimação? Como se dá o leilão das almas? Quais as regras de mercado, as forças ocultas levam em conta, na hora de decidir por uma vida ou por outra? Uma alma vale mais que outra?

Sem querer fazer proselitismo oportunista, uma vez que estamos momentaneamente consternados pela catástrofe, proponho lançarmos uma laica reflexão sobre o leilão das almas. Quem são as verdadeiras vítimas, numa tragédia como essa? Quem morre ou quem vive? Enfim, o escolhido foi alma que teve a vida estraçalhada pela avalanche; ou quem não sobreviveu?

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

A Rede Social

Para quem assistiu A Rede Social, o filme sobre o Facebook, e não entendeu bulhufas ou ficou meio perdido, aí vai uma dica. Não se assuste com o volume de informações e com o aparente ritmo alucinado dos "geeks". Precisamos desmistificar muito do preconceito em torno da mal compreendida Tecnologia e Mídia Digital: dois termos que, só de ouvir, causam calafrios para os não iniciados.


Fui com a minha esposa, coitada, que saiu da sala de cinema com a expressão de ter acabado de voltar de uma viagem interplanetária. Com meu filho, que já faz parte da Geração Y (mais tarde eu explico o que isso significa), não foi de todo ruim. Para ele, Napster, seria uma marca de tênis da década de 90, até entender que se tratava de um serviço pioneiro de troca de arquivos mp3 pela Internet, que, em 2002, perdeu nos tribunais para as gravadoras o direito de funcionar.


Olha que curioso! A Internet (essa com a qual convivemos há 15 anos), embora recente, já está escrevendo, ou melhor, publicando a própria memória. O poeta Cazuza havia proposto um museu de grandes novidades. O tempo não pára! Isso me faz recordar uma cena em que Mark Zuckerberg compara o seu recém idealizado projeto “thefacebook” à moda, ao responder quando o sistema ficaria pronto. A sacada genial desse trecho da história consiste na máxima de que em Tecnologia o processo nunca se esgota, a cada momento muitos projetos são criados, outros tantos reformulados, pois quem “dita a moda” são os próprios usuários.