quarta-feira, 16 de julho de 2008

Critério Policial

Ao assistirmos às notícias das recentes mortes produzidas pela PM carioca, fica impossível fugir da indignação que nos toma conta nessa hora. Dessa vez, as imagens mostraram policiais puxando o corpo do jovem inocente, vítima de 36 anos, para fora do carro, como um animal ensangüentado. Na ocasião, ouvi estarrecido o Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro dizer, com assombrosa frieza, que a ação dos policiais, ao revidar os tiros do suspeito, foi correta.

Um raciocínio que induz ao pensamento de que fica difícil acreditar em mudanças na Cidade Maravilhosa ou em alguma parte do mundo. Não consegui digerir como funciona a cabeça de um gestor público que tem a árdua, ou a impraticável, missão de garantir a vida dos cidadãos. Tenho a sensação de que os bons interesses são substituídos pelo desejo de vingança, de justiça imediata, de matança desenfreada, colocados em prática pela maioria dos pobres coitados dos policiais que duelam com a bandidagem todos os dias.

O secretário vociferou: “qual a polícia no mundo iria receber tiros sem revidar?”. Disse também que a polícia não existe para levar tiros, pois é o policial cidadão, como qualquer um. É óbvio que a polícia deve se proteger, mas é bom lembrar que um dos fardos da polícia é levar tiro, infelizmente. Todo policial sabe que deve arriscar a própria vida em troca da manutenção da ordem pública e da segurança da comunidade, como jurou à frente da Bandeira Nacional. Isso faz dele um cidadão especial, diferente dos demais, integrante de uma legitima categoria cuja missão é reconhecida e glorificada pela população, recebendo para tal o apoio irrestrito do Estado para o melhor cumprimento da suas tarefas.

Ninguém discute o tema “Morte de cidadão por lamentável escorregadela da polícia”, mas sim, “Polícia atira com critérios questionáveis”. A política de confronto publicamente preconizada pelo Secretário é, no mínimo, irresponsável. Deixa a população a mercê da sorte ou do azar, ao cruzar por um evento letífero a qualquer momento. É lamentável viver em permanente estado de insegurança, numa das cidades mais bonitas do mundo, dividindo espaço como balas perdidas e perigos de toda ordem.

RECEITA DE SEGURANÇA PÚBLICA

  1. Reduza, significativamente, o número de policiais fardados. Polícia e viaturas nas ruas podem dar uma falsa sensação de segurança; os bandidos adoram, pois vão agir onde eles não estão;
  2. Reserve um pequeno contingente de farda para trabalhar em ocorrências de menor monta, como brigas, acidente de trânsito e rondas ostensivas. Complemente essas rotinas com um bom e caro aparato tecnológico, com câmeras de monitoramento, comunicação integrada e ágil reforço.
  3. Empregue a maior parte do efetivo nas operações de inteligência, de contra-inteligência, de informações. Mantenha os homens infiltrados, armados sim, mas à paisana, descaracterizados e disfarçados de cidadãos comuns, pelas ruas, nos bares e nas esquinas, em eventos etc. Pois é assim que o bandido gosta de atuar: icógnito, na moita, com o chamado “elemento surpresa” a seu favor.
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