segunda-feira, 30 de junho de 2008

A ponte para o futuro

É natural, e salutar, que crianças nascidas na Pátria de Chuteiras alimentem a vontade de se tornarem um craque de bola, num dia. Acontece no Brasil e deve ocorrer, em semelhante forma, em qualquer nação no mundo. Na América, as crianças devem sonhar em serem atores famosos de algum estúdio de Hollywood. Na Inglaterra, provavelmente, uma estrela pop do Show Bizz; e, no Japão, alto funcionário da Toyota. São as boas referências nacionais.

Entretanto, a janela da realidade nos oferece uma visão de futuro bem mais deslocada das aspirações infantis. A inexorável ponte que liga o hoje ao amanhã é percorrida por três tipos de pessoas: uma parcela modesta que busca o sonho a todo custo; uma maioria que investe nas melhores possibilidades de sucesso; e, outra, cujo destino encarrega-se de colocá-las em posições de destaques entre as demais.

Há, ainda, o quarto contingente. São pessoas sem propósito definido, que, à margem do rio de incertezas, nem se arriscam por ela atravessar. Sobre esses, pouco há com o quê se possa arriscar um prognóstico, pois jazem aprisionados ao passado para o qual não há caminho que os resgatem.

No entanto, para todo mundo, só existe uma ponte. Apesar de nem todos alcançarem o fim do trajeto da maneira para a qual se dispuseram, todos chegam ao outro lado. Muito provavelmente, as pessoas mais empreendedoras, as quais trabalham as melhores chances ao longo do percurso, chegam a um bom termo. Em outras palavras, podem não conquistar o sonho de criança, como ser um jogador de futebol, mas, com certeza, já são campeãs.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

África multicultural

O proeminente romancista João Ubaldo, em entrevista na TV, disse que sentia urticária quando ouvia alguém nominar a riqueza étnico-cultural do terceiro maior continente do mundo de Cultura Africana. Para ele, não considerar as peculiaridades intrínsecas em cada um dos 53 países e atribuir à cor da pele como determinador de unidade consiste na incapacidade de enxergar diferenças entre povos além das características fisiológicas.

Segundo o escritor, quando se trata do Velho Mundo, onde quase todos são de origem branca, não se ouve falar em Cultura Européia, mas sim em Cultura Italiana, Cultura Espanhola, Cultura Alemã etc. Todas com muita força e presença nos quatro cantos do mundo. Até mesmo a América Central e Latina há um bom multiculturalismo, do tipo exportação. Quem nunca ouviu falar no sombreiro mexicano, na dança caribenha, no futebol brasileiro, nos monumentos e esculturas incas, maias, astecas e no tango argentino?

Os orientais, em menor escala, também sofrem, como os africanos, convencionalismos dessa ordem. Para nós, ignorantes, quem nasce por lá, nos países dos olhos puxadinhos, são todos “japa”, “japinha” e “amarelos”. Não sabemos distinguir coreanos, chineses e japoneses, tamanha semelhança. O mesmo efeito ocorre quando denominamos “marcianos” – os habitantes do planeta Marte – a todos os extraterrestres do universo.

Os mais de 900 milhões de habitantes do continente desconhecido (ou seria ignorado?) são formados por quase todos afro-negros; e não por angolanos, sul-africanos, quenianos, senegaleses, egípcios e nigerianos, argelinos, líbios etc. E o curioso é que muito deles foram colonizados por países europeus, dos quais herdaram aspectos culturais, adaptaram-nos a ambientes geopolíticos próprios, e cultivam as tradições que os caracterizam como são.

Contudo, no continente africano emana a cultura do obscurantismo. Nas escolas, a matéria não foi ensinada com recurso pedagógico suficiente para entendermos como se deu o processo de colonização daquela região. Muito aprendemos sobre a expansão européia, o mercantilismo, a colonização americana e as duas grandes guerras mundiais, mas pouco ou nada sabemos a respeito de como se formaram as nações africanas, suas lutas e suas glórias.

No entanto, se por um lado a cultura dos países é pouco difundida, por outro é instigante e desafiadora, a ponto de suscitar um potencial histórico-artístico a ser explorado pelos meios de comunicação de massa. A nós, ocidental provinciano, cabe-nos lançar um olhar, se não tão genial como do escritor baiano, pelo menos mais interessado e menos discriminatório, sobre o continente africano.