quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O ser dominado


Os astros exercem influência sobre tudo. Júpiter na casa de Plutão proporciona momentos perfeitos para o amor, negócios e viagens. Quem acredita que o universo conspira a nosso favor? Dizem os astrólogos que os ciclos planetários regem os ciclos da natureza e da vida na Terra.

Disso eu não sei. É mais fácil digerir que pessoas exercem influência sobre pessoas. O pai sobre os filhos; o patrão sobre os empregados e a mulher sobre os homens são alguns dos exemplos ululantes da enternecedora relação entre poder e submissão.

E qual a origem de todo esse poder? A autoridade do pai sobre os filhos pode estar na mão pesada do velho. Do patrão sobre os empregados, na necessidade do salário. Da mulher sobre os homens, muito provavelmente, na “fraqueza da carne”.

A forma pela qual se processam as relações de dependência entre os casais merece um empírico e breve aprofundamento. Em primeira instância, enquanto o homem sustentar uma excitação pela amada prevalecerá dominação feminina. Em outras palavras, enquanto a mulher despertar o interesse sexual do seu par, ela permanece dona da situação. Isso porque o homem é capaz de fazer tudo para conseguir um chamego. É capaz de satisfazer caprichos dispendiosos e de submeter-se a longos e torturantes períodos de estio.

É claro que, num segundo momento, outras variáveis entram em cena e passam a orientar as ações do ser dominado. Como a sensação de segurança, o companheirismo, o conforto, o conjunto de todas essas coisas ou aquilo que ninguém sabe muito bem o que é, mas que unem amantes por anos e anos, até quando não se amam mais.

Assim como os astros determinam o período de plantar e colher, também é preciso ser um pouco astrólogo, aceitar e permitir ser regido pelo outro. Por isso, é bom lembrar que a liderança sobre o outro é momentânea e pode ser alternada. Haverá horas em que as circunstâncias se configuram desfavoráveis, forçando-nos a abrirmos mão de nossas vontades ou a nos sujeitarmos ao predomínio do outro. Vai ser melhor agir assim do que impor uma nova ordem aos planetas.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

O perigo do trote.

Trote é um perigo. Quando inofensivas brincadeiras fogem ao controle e descambam para a violência são capazes de produzir danos irreversíveis, tanto a calouros quanto a veteranos. É aquela hora em que os mais “saidinhos” se aproveitam do momento de algazarra e euforia para ultrapassarem os limites da tolerância, hostilizando os próprios colegas.

Rituais de passagens são importantes no transcurso da vida de cada um de nós. Dão sentido lógico de que estamos evoluindo, crescendo enquanto seres humanos. Contudo, todo mecanismo social deve possuir regras de convivência com a qual faz com que a prática seja segura e saudável.

A irresponsabilidade e a necessidade de pertencer e ser aceito pelo grupo é inerente à personalidade do jovem. Junto a seus pares, o jovem sente-se mais fortalecido e animado a agir com mais desprendimento, permitindo-se ser mais arrojado, inconseqüente, propondo ações que são imediatamente aprovadas e encorajadas pela maioria.

Obviamente que a impetuosidade latente é própria da idade. É o momento da vida em que “ter atitude” é quase uma obrigação a quem deseja marcar território. Para tanto, deve-se impor-se sim: é legítimo. Não obstante, a briga por um espaço não deve ser feita de maneira desleal ou de forma a colocar em risco a integridade física, psicologia e moral do próximo.

Nesse sentido, o trote não gerenciado faz da balbúrdia ambiente propício para a formação de uma atmosfera onde o clima de animosidade se instala, sem controle e previsão de final feliz. Ainda que haja a relação liderança/subordinação, o evento é pautado pela inexistência de regras e de tribunais de apelação. Durante um trote, impera a lei do veterano mais assustador, ou seja, manda quem pode e obedece quem tem medo.

Trote é chave de cadeia. Sobra até para a direção da universidade. Seja na co-autoria das torturas e outras formas de violência, seja por omissão ou mesmo por inoperância do poder institucional. Noutra análise, trote pode ser a chave do sucesso. Como agente facilitador, atuando como parceiro dos alunos, a universidade pode coordenar e promover a festa dos calouros, para que tudo aconteça dentro de um cenário amistoso, inteligente e muito mais interessante.

Portanto, um trote responsável é viável. O aluno incorpora ao seu currículo a lembrança do dia producente que passou com amigos e a universidade agrega a sua imagem um valor imensurável de instituição responsável. Dessa forma, o único perigo para os alunos resume-se ao acidente de não passar de ano.