segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O futuro promissor das drogas

Logo após a trágica morte do menino João Hélio, em junho de 2007, no Rio de Janeiro, os governadores dos estados do Sudeste partiram para Brasília com o objetivo de pressionar à votação de leis ligadas à Segurança Pública. Na bagagem, levaram diferentes propostas para a diminuição da criminalidade dos centros urbanos. No geral, todos os governadores gostariam de gozar de autonomia para legislar sobre a matéria.

Entretanto, de todas as sugestões apresentadas, a mais polêmica foi o retorno da bandeira da descriminalização do comércio de drogas, reintroduzida pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho. Segundo ele, a liberação das drogas desoneraria o estado do combate e da repressão do tráfico de entorpecentes. Cabral acredita que a medida incentivaria ações sócio-educativas mais massivas e constantes, como forma de inclusão social.

Naquela ocasião, trazer o tema à tona, num momento de comoção nacional, foi encarado como um ato de puro oportunismo político, além de desrespeito a dor da família do menino. Mesmo assim, indiferente ou não, o tema sensibilizou a opinião pública. Foi rechaçada pelos segmentos mais radicais da sociedade e acolhida em braços esplendidos nas comunidades liberais.

O tema não é novo. No Brasil sempre se falou em abrir o mercado para o consumo de drogas ilícitas. Nos anos 90, chegou-se a surgir, em meio aos jovens de classe média, a descompromissada campanha intitulada “Legalize já”. Costumávamos ver em shows de rock ou aglomerações do gênero, faixas manifestando o apelo à liberalização, principalmente a legalização da maconha.

Em tese, essa tendência de vanguarda deseja introduzir o Brasil na galeria dos países maduros, como a Inglaterra, Holanda, Suíça, Austrália e em alguns estados americanos. Segundo especialistas, são sociedades mais evoluídas, onde as toxicomanias são consideradas doenças e não há controle de traficantes sobre o aparelho policial e político. Nesses lugares, é comum a distribuição de seringas aos viciados e áreas reservadas ao consumo em praça pública. Experimentar um modelo desse porte, no Brasil, consistiria numa quebra de paradigma sem precedentes e com resultados, no mínimo, imprevisíveis.

A justificativa do governador do Rio de Janeiro tem como base uma dura conclusão estatística: o patrocinador do narcotráfico é a própria vítima do sistema, ou seja, a classe média urbana. Segundo números da Secretaria de Segurança Pública do Rio de janeiro, mais de 70% do consumo de drogas é praticado por pessoas com renda mensal superior a dois mil reais. A pesquisa mostra também que são jovens entre 16 e 35 anos, na maioria estudantes e trabalhadores. Para o Instituto de Criminalística Carlos Éboli, entidade que realizou a pesquisa, a maioria desses jovens ainda não desenvolveu o quadro de dependência química. Além disso, eles vivem com os pais, têm uma vida produtiva e um futuro promissor.

(Complemente a sua leitura com esta matéria da Revista Veja)

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