terça-feira, 25 de março de 2008

FICOU NUA E FOI PASSEAR



Numa tarde, ela acorda de um sono bem dormido e, ainda mareada, toma um banho frio que a desperta para aquele dia especial. Em frente ao espelho, penteia os longos cabelos ruivos, com gestos firmes e bem cadenciados. Deixa cair sobre seus pés a toalha que revestia o corpo ainda molhado. Os seios demonstram a exuberância firme da juventude, com rodelas rosadas e bicos rígidos. O corpo, levemente esguio, tem a pele branca e lisa, como seda fina que abriga pequenas gotas de sereno. O pelo do púbis parece herdar as propriedades dos fios da cabeça, contudo, bem mais ásperos, porém, com a mesma maciez e o perfume recente dos cosméticos. Sem vestir uma peça sequer, sem sutiã, sem sapatos, sem vergonha, abre a porta da sala e sai nua.

Costumo cochilar durante as viagens de ônibus. Depois de um dia árduo no trabalho, fica impossível manter as pálpebras abertas. Entre o fechar e o abrir dos olhos, eis que me deparo com uma mulher nua, sentada a dois bancos a minha frente. Esfreguei o rosto, olhei para os lados. Não havia outro passageiro, além de nós dois. O motorista conduzia o veículo com a passividade própria de quem executa muito bem o ofício de transportar vidas, sem se importar com o sexo, raça e crença das pessoas. Estaria eu, portanto, acometido de uma crise psicótica? Ela era real? Uma figura inusitada e inverossímil. Uma Godiva, igualmente nua, dentro de um ônibus!

Um turbilhão de elucubrações insanas e sentimentos primitivos permearam a minha mente ao curso daquele instante. Quem era aquela mulher? Por que estava nua? Por que saiu com os seios desprotegidos, as genitálias à mostra e os pés descalços. Entretanto, o que mais me incomodava não era o fato de estar a um metro daquela criatura perfeita, mas sim dela não esboçar um ar sequer de acanhamento. Assim como o motorista, o sistema solar e a desonestidade dos políticos, a mulher pelada no ônibus estava indiferente a tudo e a todos.

Porém, antes de outro fato impensado acontecesse, como por exemplo, ela partir em minha direção e falar comigo, o óbvio fez-se presente. Um pouco antes do meu destino, a naturista desavergonhada levantou-se. Sem olhar para trás, caminhou para frente do ônibus, onde ficava a saída. Pediu para parar. Pagou a passagem ao motorista, que acenou gentilmente com um simples gesto de cabeça, despedindo-se formalmente daquela convencional usuária do transporte público.

Da janela, pude ver então o rosto daquela inquietante criatura e, como havia imaginado, toda beleza frontal de uma divina escultura. Os peitos, o umbigo, as curvas alongadas e os pelos da vagina, tudo em perfeita harmonia. Infelizmente, o seu olhar, a parte mais reveladora, não deu para conhecer. Enquanto o ônibus partia, ela, já do lado de fora, caminhava em sentido contrário, olhando para o chão. Só me restou contemplar, de forma rápida e derradeira, aquele controvertido ser; e esperar que ela reapareça no próximo sonho de um cochilo urbano.

Obs: Inspirado em fatos reais

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