quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Papo Cabeça

– Filho, venha aqui. Tô pensando em assinar uma revista pra você.
– Pra quê? Eu não leio revista!
– Mas deveria. Você prefere a Superinteressante ou a Galileu?
– Galileu?
– É, Galileu. A concorrente da Superinteressante. São revistas de variedades, que trazem informações sobre o mundo.
– Ah, pai. Eu não quero saber nada sobre o mundo. Qualquer coisa eu ligo na Discovery.
– Eu sei, filho. Mas, as revistas são fontes de pesquisa, de consulta...
– Pra pesquisar eu busco no Google.
– Tá bom. Olha só, Discovery, Google são ótimos, mas eles não vão despertar em você a curiosidade pelo saber. O conhecimento, filho, vai abrir seus olhos para outras coisas.
– Como assim?
– É, filho. Já tá na hora de você se interar com o que acontece ao seu redor. Você precisa sair dessa inércia intelectual. Deixar de lado esse universo sombrio de joguinhos de videogames, RPG, Counter Strike, Naruto e ...
– Naruto não é jogo, é anime.
– Na verdade, filho. Na sua idade... têm coisas que você precisa conhecer. Só através do interesse, você vai abrir as portas do futuro. À medida que você fica sabendo mais, suas asas vão aumentando, suas asas vão crescendo...
– Coé, pai. Pirô o cabeção?
– Não filho, ainda não. Estou usando uma metáfora pra você entender melhor. A gente recorre a metáforas quando a gente quer explicar uma coisa complicada. Aí, a gente usa o sentido figurado, captou?
– Anh...
– Então, como eu dizia. Quanto mais curioso você for, maiores serão suas chances de se dar bem com elas. Você pode alçar vôos mais altos, pousar em galhos remotos e provar as frutas mais saborosas. As pessoas que têm asas curtas sequer experimentam a fruta.
– Saquei.
– Pois é, filhote. O pai mesmo. Se eu não tivesse estudado, talvez estaria ainda lá em Campo Grande, de bobeira numa esquina, esperando que alguém me arrumasse um trampo. Não teria dinheiro pra sair, namorar, nem iria conhecer sua mãe. Você nem teria nascido! Eu vejo lá meus amigos de infância, no maior miserê, pilotando vans, anotando o Jogo do Bicho. O estudo me libertou daquela vida.
– Legal, pai. Legal esse papo...
– Você entendeu aonde o papai quer chegar?
– Claro, pai, claro.
– Então. Vai de Super ou de Galileu?
– Ah. Depois de tudo que o senhor me disse, acho que não precisa assinar nenhuma não.
– Ué, por quê?
– É só o senhor me deixar acessar aqueles sites proibidos.
– Como assim!?
– Como o senhor mesmo disse: têm coisas que eu preciso conhecer, na minha idade, não é?
– É.
– Então. Aí, o senhor disse o lance da metáfora. Quanto mais curioso eu for, maiores serão minhas chances de me dar bem com elas. Pô, quando o senhor disse que tem gente que nem experimenta a fruta, me deu uma baita sede de saber.

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